Apesar do potencial atrativo das ações brasileiras após as quedas recentes, especialistas alertam que essa desvalorização sozinha não será suficiente para impulsionar o mercado. O Ibovespa, que recuou quase 10% em 2024, reflete as preocupações com o risco fiscal, alta nas taxas de juros e desafios estruturais da economia do país.
A visão dos analistas
O Morgan Stanley, que reduziu sua exposição ao Brasil para underweight, destaca que o modelo econômico atual, baseado em altos gastos governamentais e consumo (G&C), está insustentável. Para alcançar um ciclo de alta, será necessário um reequilíbrio macroeconômico focado em investimentos e exportações (I&X), além de uma redução nas taxas de juros e nos gastos públicos.
Atualmente, o déficit fiscal é de 2,7% do PIB, equivalente a cerca de US$ 50 bilhões, enquanto o investimento no Brasil representa apenas 17% do PIB, abaixo de países como a Argentina. Isso aponta para uma dependência excessiva do consumo e da alavancagem, limitando o crescimento sustentável.
O desafio da dominância fiscal
A chamada dominância fiscal — quando o desequilíbrio das contas públicas prejudica a eficácia da política monetária — é outro fator preocupante. Nesse cenário, altas taxas de juros, que deveriam conter a inflação, acabam aumentando os gastos com o pagamento de juros da dívida pública, agravando o problema fiscal.
O Morgan Stanley alerta que, sem mudanças estruturais, o Brasil corre o risco de um “pouso forçado” nos lucros corporativos, aumento das taxas de juros e deterioração das expectativas do mercado.
Potenciais catalisadores para o mercado
Apesar do pessimismo, há oportunidades. Segundo a XP Investimentos, o nível extremo de pessimismo observado historicamente tende a coincidir com as mínimas do mercado, podendo representar uma oportunidade de compra. Contudo, os analistas alertam que essa recuperação dependerá de dois fatores principais:
- Fluxos financeiros favoráveis: Investimentos institucionais e maior alocação em renda variável.
- Catalisadores macroeconômicos: Mudanças significativas nas políticas fiscais e monetárias que sinalizem um reequilíbrio econômico.
Estratégias recomendadas
Enquanto não há sinais claros de mudanças estruturais, a recomendação é adotar uma abordagem cautelosa, com foco em setores defensivos, como petróleo, agricultura e tecnologia. A XP sugere priorizar empresas com:
- Baixa alavancagem financeira
- Carrego sólido
- Dinâmica favorável de lucros
Perspectivas para 2025
Embora o potencial de crescimento das ações brasileiras seja significativo, ele depende de reformas econômicas estruturais e uma gestão fiscal responsável. No curto prazo, o cenário permanece desafiador, com os investidores atentos à possibilidade de o Brasil adotar medidas que promovam uma transição para um modelo econômico mais equilibrado.
A mensagem é clara: preços baixos podem ser atrativos, mas sem catalisadores positivos e estabilidade macroeconômica, não há garantia de recuperação sustentável do mercado de ações no Brasil.
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